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A Agressividade Canina - Parte 3

Por: Sílvio Pereira

 

 

Concluimos com este artigo a trilogia sobre este tema.

 

Pensamos que, para o público em geral, não é muito importante o diagnóstico ou o tratamento dos vários tipos de comportamentos agressivos, para isso existem os técnicos com formação adequada para o fazer, o que importa é focar-mo-nos naquilo que podemos fazer para evitar que esses comportamentos se criem e se desenvolvam e a isso chamamos Prevenção.

 

Vamos então falar detalhadamente sobre ela. 

 

A prevenção das agressividades centra-se em três factores fundamentais:

 

  • Criação

  • Raça

  • Socialização

 

Criação

 

Está perfeitamente comprovado que a genética tem uma enorme importância no desenvolvimento da agressividade nos cães. É óbvio que se cruzarmos dois cães agressivos obteremos inevitavelmente uma percentagem muito grande de descendentes com essa característica. Se continuamos a cruzar os descendentes com outros cães agressivos vamos ter de certeza um grave problema de agressividade no produto da nossa criação. O melhor exemplo são o caso de alguns exemplares da raça Pit Bull que são seleccionados ao longo de gerações com o único objectivo de lutar com outros cães.

 

Em contraponto, se começarmos a aliviar a carga agressiva de alguns cães ao cruzá-mo-los com outros mais dóceis, iremos de certeza, aliviar esse problema, conseguindo a pouco e pouco uma redução significativa dos incidentes de agressividade.

 

A genética pode influenciar facilmente a estrutura e a função do cérebro o qual contribui para aumentar ou baixar os patamares que afectam o comportamento agressivo. A gestão correcta dos períodos de desenvolvimento críticos é vital mas o primeiro passo é a genética. Como domesticadores destes animais temos que prestar muito mais atenção à redução da agressividade e potenciar a socialização.

 

Raça

 

A selecção da raça é fundamentalmente para prevenir a agressividade. Se elegemos uma raça que não se ajuste a nós o stress e a frustração pode provocar problemas de agressividade. Se temos crianças há algumas raças que não devemos adoptar. Nesta situação as raças que não se devem adquirir, o que não quer dizer que alguns exemplares destas raças não sejam bons companheiros para as crianças, ou não haja outras raças que deviam estar incluídas. Esta lista é genérica como tal pode ser falível, e outras opiniões também são válidas. Nalguns casos o cão é demasiado pesado, activo e muito impulsivo para brincar com crianças em segurança: Os Dálmatas, os cães tipo Pit Bull, Shar Pei, Chow Chow, Akitas, Rottweilers, Komondoros…

 

Se somos pessoas sedentárias não elejamos raças que precisam de muita estimulação física e mental como por exemplo os Border Collie, Dobermann, Boxer, Jack Russel Terrier. As raças de cães de guarda tendem a ter reacções agressivas. Informe-mo-nos sobre as raças que se quadugnam com o nosso estilo de vida antes de adquirir um cão e pensemos nas qualidades da raça que podem ser um problema para nós e para aqueles que partilham a nossa vida.

 

Socialização

 

Os dois tipos de socialização intra (Imprinting – entre as 2 e as 4 semanas) e a inter-especifica (entre as 5 e as 12 semanas) realizadas correctamente nas alturas devidas são o mais importante garante (aliadas a uma criação criteriosa e a uma escolha da raça ponderada) de um exemplar equilibrado e isento de agressividades patológicas.

 

“ O cérebro cresce de duas maneiras: aumenta de volume e muda de forma. O nível de crescimento e da forma que adopta dependem dos tipos de estímulos ambientais que recebe durante as primeiras doze semanas de vida” (Coppinger e Coppinger, 2001)

 

“ Quando nasce um cachorro tem já todas as células cerebrais das que vai ter toda a sua vida.

Se o cérebro do cachorro tem exactamente o mesmo número de células que o de um adulto, como pode chegar a adquirir dez vezes o seu tamanho? A resposta é que o crescimento do cérebro centra-se, quase na sua totalidade, nas ligações entre as células. De todas as células que estão presentes quando nasce, uma grande quantidade delas não estão ligadas. O que ocorre durante o desenvolvimento do cachorro é o padrão de vinculação das células nervosas. Alguns nervos realizam ligações espontâneas, impulsionados por sinais internos. Alguns nervos “procuram” um músculo ao qual se ligar. Outras ligações estão motivadas por sinais externos ao cérebro” (Coppinger e Coppinger, 2001).

 

Um cachorro que cresce num ambiente pobre tem um cérebro mais pequeno. Inclusivamente se este cachorro empobrecido muda para um ambiente enriquecido quando adulto, não poderá aprender a gerir esse meio ambiente porque não tem as ligações neuronais necessárias. Uma vez que o cão chega às 12 semanas e já tem estabelecido, ou não, quase todas as ligações neuronais que vão orientar toda a sua vida social” (Coppinger e Coppinger, 2001).

 

A teoria mais provável sobre o porquê da existência de uma janela de oportunidade para a socialização é que os canídeos em ambiente selvagem têm que ser desconfiados ante os novos estímulos para poder evitar os perigos. Se houvesse mecanismos opostos o canídeo teria medo de tudo. A maneira de solucionar isto nos cachorros é que estão debaixo da protecção da matilha ou da mãe e ao mesmo tempo exploram situações com as quais terão que interactuar toda a sua vida. Isto não é difícil em ambiente selvagem dado que existe um número limitado de estímulos que o canídeo terá que enfrentar. O facto de que no mundo dos humanos haver mais estímulos e mais variados à medida que o cachorro via crescendo aumenta a desconfiança. Nesta altura o canídeo já está familiarizado com todas as situações que terá que enfrentar na sua vida. É um sistema engenhoso. O ciclo de socialização funciona deste modo muito bem em ambiente selvagem, mas na nossa sociedade um cão está exposto a tantos estímulos novos que é quase impossível funcionar com esses limites. Por isso, é tão importante a socialização. Se nós perdemos os período critico e sensível de socialização, será muito difícil recuperá-los noutros estágios da sua vida. Assim, se perdemos o comboio da socialização iremos ter de certeza mais riscos de que o nosso cão desenvolva uma agressividade baseada no medo.

 

Por todas estas razões, é importante que todos os interessados em adquirir um cachorro NUNCA o devem fazer em lojas de artigos para animais.        

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